Texto de Análise: Os Shaktas, por Louis Renou
Pode ligar-se livremente ao çivaismo o culto da deusa Durgâ (e das formas paralelas), quer apareça no estado distinto, quer se encontre reunido ao de Çiva. A base deste culto reside na crença na çakti ou «energia» divina (dai o nome de çâktas e çâktismo atribuído a essas seitas) emanada de um outro grande deus, muito particularmente de Çiva, que se desenvolve de forma autônoma repelindo com freqüência para segundo plano, no estado de vago páredro, o culto do deus másculo. As origens desta crença são remotas, encontrando-se os primeiros traços no Veda e tendo penetrado em numerosas formas religiosas que não são especialmente de pertença çâkta. Por outro lado, o ritual çâkta confundiu-se em larga medida com o tântrico, ao ponto de se pensar se çâktismo e tantrismo não seriam termos sinônimos. Pode, todavia, afirmar-se que há um culto çâkta, não tântrico ou não necessariamente tântrico, sobre o qual as primeiras indicações literárias são fornecidas pelo historiógrafo Bâna, no século VII. Os livros de base são o Devî-Bhâgavata (-Puràna), anterior ao século XV, e o CandîMâhàtmya. Os sacrifícios animais (eventualmente, na antiguidade, os sacrifícios humanos) desempenharam um papel preponderante, e a sede predileta dessas seitas foi Bengala: é o çâktismo o responsável do declínio do vishnuismo bengali. Por outro lado, há uma literatura recente de tipo çâkta que consiste na adoração da Mãe divina, com acentos de «devoção emocional» análogos aos que se notam no krishnaismo: é a tendência que ilustram no século XVIII os poetas bengalis mencionados anteriormente. Mas trata-se de efusões líricas, que também encontrariam o seu lugar nas numerosas glorificações da Deusa que assumiu forma literária através da Índia, em todas as épocas. A literatura çâkta é considerável, na sua maior parte em língua sânscrita.