A Morte e os Deuses
O ano, sem qualquer dúvida, é o mesmo que a morte, pois o Pai Tempo é aquêle que, por meio do dia e da noite, destrói a vida dos seres mortais, e então os mesmos morrem; portanto, o ano é o mesmo que a morte, e quem souber que êste ano é a morte não tem sua vida destruída nesse ano, pelo dia e pela noite, antes da velhice, atingindo tôda a duração normal de vida.
Sem dúvida êle é o Terminador, pois é quem, pelo dia e pela noite, atinge o fim da vida dos mortais, e então os mesmos morrem; portanto, êle é o Terminador, e quem conhecer êste ano, a morte, o Terminador, não terá sua vida terminada nesse ano, pelo dia e pela noite, antes da velhice, atingindo tôda a duração normal de vida.
Os deuses tinham mêdo dêste Prajapati, o ano, a morte, o Terminador, receando que êle, pelo dia e pela noite, atingisse o final de suas vidas.
Eles executaram estes ritos sacrificais - o Agnihotra (a) os sacrifícios da Lua Nova e Lua Cheia, as oferendas das estações, o sacrifício de animais e o sacrifício-Soma; fazendo essas oferendas eles não conseguiram a imortalidade.
Construíram também um altar de fogo, - dispondo inúmeras pedras de encerramento, inúmeros tijolos de yaiushmati,b inúmeros tijolos de lokampritta, (c) como alguns os dispõem até hoje, dizendo: "Os deuses fizeram assim". Eles não conseguiram a imortalidade.
Continuaram a louvar e trabalhar, esforçando-se por conquistar a imortalidade. Prajapati disse-lhes então: "Vós não dispondes todas as minhas formas, mas fazeis-me ou grande demais, ou deixais-me defeituoso; por isso vós não vos tomais imortais”.
Eles disseram: "Dize-nos tu mesmo, então, de que modo podemos dispor todas as tuas formas!"
Ele respondeu: "Disponde trezentas e sessenta pedras de encerramento, trezentos e sessenta tijolos de yaiushmati e trinta e seis, outrossim; e de tijolos de lokamplita disponde dez mil e oitocentos; e vós estareis dispondo tôdas as minhas formas e vos tomareis imortais". E os deuses dispuseram conforme dito, e daí em diante se tornaram imortais.
A morte disse aos deuses: "Certamente com isso todos os homens se tomarão imortais, e que parte então será a minha?" Eles responderam: "Doravante ninguém será imortal com o corpo; somente quando tiveres tomado êsse corpo como tua parte, aquêle que se deverá tornar imortal, seja pelo conhecimento ou pela obra sagrada, se tomará imortal depois de separar-se do corpo". Ora, quando êles disseram
"seja pelo conhecimento ou pela obra sagrada", é o altar de fogo
que constitui o conhecimento e êsse altar é a obra sagrada.
E aquêles que sabem isso, ou aquêles que fazem essa obra sagrada, voltam a vida novamente quando morreram e, voltando a vida, chegam a vida imortal. Mas os que não sabem isso, ou não executam essa obra sagrada, voltam a vida novamente quando morrem, e tornam-se o alimento da Morte repetidamente. (3)
(10.4,3)
a) Nome da Oblação diária ao deus Agni.
b) Literalmente, "acompanhado por uma fórmula sacrifica!”.
c) Literalmente, "enchendo o mundo".
Cosmogonia
Na verdade, de inicio este universo era água, nada mais que um mar de agua. As águas desejaram: "Como podemos reproduzir?” Elas se esforçaram e praticaram devoções fervorosas, e quando se estavam aquecendo foi produzido um ôvo dourado. O ano, na verdade, não estava então em existência - êsse ôvo dourado flutuou durante o espaço de um ano.
No período de um ano um homem, este Prajapati,a foi produzido dali, e por isso uma mulher, uma vaca ou uma égua gera dentro do espaço de um ano, pois Prajapati nasceu em um ano. Ele rompeu o ovo dourado. Não existia então, na verdade, qualquer lugar de descanso; apenas esse ovo dourado, trazendo-o, flutuava durante todo o espaço e um ano.
No final de um ano, ele tentou falar. Disse "bhuhr", palavra que se tomou esta terra; - "bhuvar", que se tomou o ar; - “svar", que se tomou o céu além. Por isso uma criança tenta falar ao fim de um ano, pois ao fim de um ano Prajapati tentou falar.
Quando falava ela primeira vez, Prajapati dizia palavras de uma sílaba e de duas sílabas; por isso uma criança, quando fala pela primeira vez, diz palavras de uma e duas sílabas.
Essas três palavras consistem em cinco sílabas e êle as tomou as cinco estações. Ao final do primeiro ano, Prajapati subiu para estar sôbre essas palavras assim produzidas; por isso uma criança tenta estar de pé ao fim de um ano, pois ao um de um ano Prajapati ficou de pé.
Ele nasceu com uma vida de mil anos; assim como alguém poderia ver a distância a costa em frente, assim ele olhou a costa a frente de sua própria vida,
Desejando ter progênie, continuou a cantar louvores e a trabalhar.
Estabeleceu o poder de reprodução em seu próprio eu. Pelo alento de sua boca criou os deuses - os deuses foram criados ao entrar no céu; e esta é a divindade dos deuses, a que tenham sido criados ao entrar no céu. Tendo-os criado houve, por assim dizer, dia para ele e esta é também a divindade dos deuses, a que, depois de cria-los, houve, por assim dizer, dia para ele.
E pelo alento ou respiração para baixo, ele criou os Asuras!- que foram criados entrando nesta terra. Tendo-os criado houve,por assim dizer, treva para ele.
Agora que a luz do dia, por assim dizer, existia para ele, ao criar os deuses, isso êle fêz o dia; e a treva, por assim dizer, que havia para êle, ao criar os Asuras, disso ele fêz a noite - eles são esses dois, o dia e a noite.
( 11. 1, 6, 1-11 )
a) "Senhor das criaturas", o deus supremo a vir.
b) Uma classe de demônios, oponentes dos deuses.