Índice

Gênios, Demônios e Animais

A esse cortejo de deuses maiores e menores, e de divindades secundárias da religião hindu, denominações múltiplas e uma só Divindade, seguem os gênios e os demônios, que formam um mundo de sêres sobrenaturais. Munidos de poderes que lhes permitem mudar de forma ao seu bel-prazer, eles se agrupam geralmente sob as ordens de um chefe. Podem ser bons ou maus, e às vezes bons e maus ao mesmo tempo.
Os Asuras, os Daityas e outros demônios análogos, contam-se entre os mais perversos desses seres intermediários entre os deuses e os homens. É contra eles que lutam os heróis das epopéias. Os Nagas ou "serpentes" pertencem às trevas da terra; são gênios subterrâneos representados com cabeça humana e cauda de serpente. Os Yakchas e os Yakchinis são os "detentores das riquezas e das ilusões mágicas".
Os Gandarvas, músicos e dançarinos, um pouco faunianos, tem por aliados as Apsaras, ninfas das águas, dançarinas e tocadoras, as vezes ligadas ao culto das árvores. A mais célebre é Urvaçi, heroína de uma lenda com o rei Puruvaras. Rávana, o príncipe demônio, é ao mesmo tempo o patrono de um ritual antidemoníaco. Na realidade, não se encontra no Veda nenhuma figuração diabólica muito acentuada. O mal quase só existe em aparência. É uma sombra, o aspecto negativo do valor de um gênio ou de um homem ordinário.
Certos animais, para os hindus, podem ser revestidos de um caráter sagrado. Tal é o caso da Vaca, por exemplo, o animal sagrado por excelência. Mesmo a serpente é objeto de um culto, de forma atenuada, mas diversa. Cercada de respeito, a serpente sugeriu numerosos símbolos: quando ela morde a própria cauda, é a eternidade; quando ela sai da boca de um adormecido, é a alma que parte. O cisne ou hansa, cavalgadura habitual de Brama, representa a alma identificada ao sol. O elefante é o emblema da força e da sabedoria. É um dos mais importantes entre os animais sagrados. Sua origem passa por ser miraculosa. É de sua espécie que saíram os quatro- e depois os oito – “guardiões dos orientes" ou Lokapalas. Os quatro regentes do mundo que se acham sob o monte Meru cavalgam quatro elefantes cósmicos, os dinaga.
Para os hindus, existem apenas diferenças de grau de evolução entre os homens e os animais. Por isso eles cercam os animais de uma solicitude tocante para ajudá-los em sua progressão. Mas a vaca é particularmente sagrada na Índia. Já no Veda a Vaca representava um símbolo de maior importância - o da Luz: “a vaca védica, animal essencialmente enigmático, não provém de nenhum rebanho terrestre. A palavra "go" significa vaca e luz ao mesmo tempo. As Vacas são os raios da Aurora, os rebanhos do sol e não do gado físico. As Vacas perdidas são os raios perdidos do sol; sua recuperação é o prelúdio da recuperação do sol perdido [Sri Aurobindo, op. cit.].
O sentido do sagrado, que o povo hindu possui no mais alto grau, pode estender-se até às árvores, às plantas, às pedras, porque para eles a natureza participa das formas religiosas. As águas, porém, oferecem um caráter especialmente sagrado em vista de seu poder purificador. O mais santo dos rios é o Ganges, que "atravessa o céu sob a forma de rio celeste ou de via Láctea", em seguida a terra e finalmente os infernos. O sonho de todo o hindu é morrer em Benares, à beira do Ganges.

in Lemaitre, S. Sanatana - Dharma, o Hinduísmo. São Paulo: Flamboyant, 1958.


Voltar para Religião