Índice

Quadro Econômico - Social da Época Maurya

A agricultura figura sempre no primeiro plano das preocupações dos hindus, mas o comércio e a indústria desenvolveram-se bastante e passaram a constituir agora, realmente, a base da prosperidade do reino. O comércio está mais bem organizado do que outrora; os negociantes reúnem-se em corporações; alguns deles são agentes reais e seu chefe é recebido pelo rei; obedecem a regulamentos cuidadosamente estabelecidos; há fiscalização dos preços, dos pesos e das medidas. As caravanas são também regulamentadas e pagam direitos aduaneiros e de peagem; formam-nas longas filas de carros e são dirigidas por guias na travessia do deserto, transportando jangadas para a passagem dos rios. Estabeleceu-se intenso tráfico com os países vizinhos, importando- se peles e seda da Ásia Central e da China, exportando-se musselinas, jóias, armas e especiarias. O comércio marítimo desenvolveu-se igualmente tanto ao longo das vias fluviais como no mar; depende da marinha do Estado, que regula a circulação náutica, assegura os pontos de reabastecimento, vigia os portos e protege as costas contra os piratas. A indústria que alimenta o comércio abrange principalmente a tecelagem e o trabalho dos metais.
A caça, ganha-pão dos pobres, é um divertimento de grande distinção entre os nobres; reveste-se de um aspecto faustoso para o rei e os aristocratas que partem para imensas batidas acompanhados de suas mulheres e servidores; precedidos de músicos que tocam gongos e tambores, organizam-se em cortejos, a cavalo, sobre o dorso de elefantes ou em carros, escoltados por guardas armados. Quanto à guerra, lucrativa quando vitoriosa, obedece a regras que são descritas de maneira cada vez mais cuidadosa. É dirigida pelos xátrias e pelo rei, ele próprio um combatente, o primeiro de todos, por definição. O exército compõe-se de infantes, de um corpo de cavaleiros, de elefantes e carros; as tropas são mercenárias ou então engajadas por um certo prazo; algumas especializam-se nos ataques nas montanhas ou florestas. A arte da guerra inclui, entre outras coisas, a construção dos fortes, o que exige grande número de diferentes noções.
Enfim, outra fonte de rendas provém do imposto que, calculado segundo um sistema ponderal determinado, serve à manutenção do rei, de seus ministros, dos funcionários, do exército, das viúvas e dos indigentes. Tal imposto é acrescentado às vantagens que o rei tira das propriedades reais, constituídas por domínios agrícolas, florestas, minas, manufaturas e prisões. O imposto sustenta também as obras públicas relativas às estradas, aos canais de irrigações, aos reservatórios etc. Os outros beneficiários do imposto são os brâmanes e, em regiões budistas, os monges, que recebem, além disto, doações e oferendas; o próprio rei dedica importantes somas - ele é o único a ter o direito de cunhar moeda - à construção de fundações religiosas e a conferir-lhes a propriedade de terras cultiváveis e o pessoal necessário à sua exploração. Muitas vezes os nobres o imitam, da mesma forma que os comerciantes ricos, pois fazer incessantes doações ao sacerdócio é obra piedosa. [...]
O desenvolvimento do comércio enriquece toda uma classe de mercadores que, reunidos nas corporações, têm o seu representante junto ao rei; eles próprios podem ser agentes reais. Sua prosperidade manifesta-se, às vezes, em importantes doações feitas aos lugares sagrados. A mesma classe ligam-se os banqueiros, cuja fortuna é amiúde vultosa. Mas a massa popular compõe-se principalmente de trabalhadores rurais e de todos os que vivem da criação ou da caça, de operários e artesãos, aos quais devemos somar os comediantes, lutadores, cantores, adivinhos e médicos, cuja habilidade é louvada por Megástenes e cujos cuidados se estendem também aos animais. No grau mais inferior da escala social, encontramos toda a sorte de funções, ofícios e condições: os habitantes da jângal e os estrangeiros, os caçadores, os cortadores de erva, os cocheiros e os condutores de elefantes, os palafreneiros e escudeiros, os portadores ou portadoras de pára-sóis, de enxota-moscas e estandartes, os soldados e os músicos. Por fim, todos os empreiteiros, os que pavimentam os parques, os carregadores etc. [...]

in Auboyer, J. "Características da Civilização Védica" in Crouzet, M. História Geral das Civilizações. Lisboa: Difel, 1957. v.2


Voltar para História