Sobre a Origem e Valor das Quatro Castas
Brama criou assim anteriormente os Prajapatis bramânicos,(a) pene-
trados por sua própria energia e em esplendor igualando o sol e o fogo.
O senhor formou então a verdade, correção, fervor austero e os Vedas
eternos, a prática virtuosa e a pureza para se atingir o céu. Formou
também os deuses, demônios e homens, brâmanes, xátrias, vaixás e su-
dras, bem como todas as outras classes de seres. A cor dos brâmanes
era branca, a dos xátrias vermelha, a dos vaixás amarela e a dos su-
dras negra.
Se a casta das quatro classes for distinguida por sua cor, então se
mostra observável uma confusão de todas as castas. O desejo, a raiva,
o medo, a cupidez, a aflição, a apreensão, a fome, a fadiga, atingem-
"nos todos; pelo que se discrimina a casta, então? O suor, urina, ex-
cremento, fleuma, bílis e sangue são comuns a todos; todos têm cor-
pos que degeneram; pelo que se discrimina a casta, então? Há inúme-
ras espécies de coisas que se movem e são estacionárias; como se pode
determinar a classe desses diversos objetos?
Não há diferença de castas; tendo sido criado inteiramente brama-
nico de inicio por Brama, em seguida este mundo se separou em cas-
tas devido às obras. Aqueles brâmanes que gostavam o prazer sen-
sual, ferozes, irascíveis, inclinados à violência, que tinham abandonado
seu dever e apresentavam membros vermelhos, caíram na condição de
xátrias. Aqueles brâmanes que extraíam sua subsistência do gado, eram
amarelos, subsistiam pela agricultura e negligenciavam seus deveres
entraram no estado de vaixás. Aqueles brâmanes que gostavam da
maldade e falsidade, eram cobiçosos e viviam de todos os tipos de tra-
balho, eram negros e tinham abandonado a pureza, mergulharam na
condição de sudras. Estando separados uns dos outros por essas obras,
os brâmanes se dividiram em castas diferentes. O dever e os ritos de
sacrifício nem sempre foram proibidos a qualquer um deles. São estas
as quatro classes para quem o Sarasvati (b) bramânico foi destinado de
início por Brama, mas que, pela sua cupidez, caíram na ignorância. Os
brâmanes vivem de acordo com as prescrições dos Vedas, e enquanto
se atêm a eles e às observâncias e cerimônias, seu fervor austero não
desaparece. E a ciência sagrada foi criada como a coisa suprema -
aqueles que a ignoram não são homens nascidos duas vezes. Destes,
há diversas outras classes em lugares diferentes, que perderam todo o
conhecimento sagrado e profano e praticam quaisquer observâncias que
lhes agradem. E diferentes espécies de criaturas com os ritos purifi-
cadores de brâmanes, e discernindo os seus próprios deveres, são cria-
dos por Rishis (c) diferentes, através de seu próprio fervor austero. Esta
criação, nascida do deus primaz, tendo sua raiz em brahman, indegene-
rável, imperecível, chama-se a criação nascida da mente, estando devo-
tada às prescrições do dever.
Que é aquilo, em virtude do que um homem é um brâmane, um
xátria, um vaixá ou um sudra? Dize-me, ó eloqüentíssimo Rishi.
Aquele que é puro, consagrado às cerimônias natais e outras, que
estudou completamente os Vedas, vive na prática das seis cerimônias,
executa perfeitamente os ritos da purificação, come os restos das obla-
ções, prende-se a seu mestre religioso, é constante nas observâncias re-
ligiosas e devotado à verdade, chama-se um brâmane. Aquele em quem
se vêem a verdade, liberalidade, inofensividade, modéstia, compaixão
e fervor austero, é declarado um brâmane. Aquele que pratica o de-
ver advindo do cargo de rei, dedica-se ao estudo dos Vedas e tem pra-
zer em dar e receber, a este se chama um xátria. Aquele que pron-
tamente se ocupa com gado, é dedicado à agricultura e à aquisição e
se mostra perfeito no estudo dos Vedas, denomina-se um vaixa. Aque-
le que habitualmente se inclina a todos os tipos de alimento, executa
todos os tipos de trabalho, não é limpo, abandonou os Vedas e não
pratica as observâncias puras, é tradicionalmente chamado um sudra.
E isto que afirmei é a marca de um sudra, e não se encontra em um
brâmane; um sudra assim continuará a ser um sudra, enquanto o brâ-
mane que agir assim não será um brâmane. (14)
a) Deuses secundários, considerados como emanados de Brahman.
b) A deusa da palavra.
c) Videntes primitivos.
O Homem no Poço
Um brâmane se extravia numa floresta fechada, repleta de feras.
Apavorado, corre de um lado para outro, procurando em vão uma saída.
Vê então que a floresta está cercada por todos os lados com armadi-
lhas e é abraçado por uma mulher de aspecto terrível. Dragões enormes
e horrorosos, de cinco cabeças e altura descomunal, cercam essa grande
floresta e em meio à mesma, coberta por vegetação rasteira e trepadei-
ras, há um poço. O brâmane cai nele e é apanhado pelos ramos entre-
laçados de uma trepadeira. Como a grande fruta-pão, presa por seu
pedúnculo fica dependurada, também estava ele, de pés para cima e
cabeça para baixo. E no entanto um perigo ainda maior o ameaça ali,
pois em meio ao fosso percebe um grande dragão e na beira da tampa
do poço vê um elefante de seis bocas e doze pés aproximando-se lenta-
mente. Nos ramos da árvore que cobria o poço, esvoaçavam todos
os tipos de abelhas de aspecto temível, preparando mel. O mel goteja
e é bebido avidamente pelo homem pendurado no poço. Isso porque
não estava cansado da existência e não abandonava a esperança de vi-
ver, embora ratos brancos e pretos roessem a árvore em que se pen-
durava. A floresta é samshara, a existência no mundo; as feras são as
doenças, a giganta monstruosa a velhice, o poço é o corpo dos seres,
o dragão ao fundo do mesmo é o tempo, as trepadeiras em que ele
se apoiou a esperança de viver, o elefante de seis bocas e doze pés é
o ano com seis estações e doze meses, os ratos são os dias e as noites,
e as gotas de mel os prazeres sensuais.