por Guy Anequin em A Civilização Indiana (1979), Editora Ferni, Rio de Janeiro.
A Índia Proto-Histórica
A Índia era povoada desde a noite dos tempos, quando, há 5.000 anos, alguns clãs chegaram a fixar-se à volta de seus campos, perto de seus rebanhos, em grandes aldeias com atividades cada vez mais organizadas. Com a ajuda de argila, fazem recipientes; observam as qualidades de um minério vermelho: o cobre, que, primeiro martelado, depois fundido, oferecia um grande avanço em relação à pedra para o fabrico de ferramentas. Essas primeiras aldeias primitivas, como as de Kulli e de Mehi, foram reconhecidas principalmente na província do Baluquistão, que se limita com o Irã. No entanto, cada uma destas comunidades mostra uma certa originalidade e distingue-se da vizinha: uns enterravam seus mortos, outros queimavam-nos; o tijolo prevalece neste lugarejo e no outro, a pedra. Em suma, dispersos e selvagens, cada agrupamento contribuía na elaboração de uma nova cultura em gestação.
A região de Amri, em Sind, parece ter sido relativamente mais favorecida, porque estava situada numa zona então fértil e irrigada, nitidamente, mais do que hoje, como o demonstra a fauna da época: elefantes, rinocerontes, crocodilos e tigres freqüentavam seus pântanos. Atualmente esta região, varrida pelo vento, é nua e árida. Mas é o lugar de Kot-diji, situado acima do nível do Indo, explorado em 1955-1957, que anuncia por vários indícios, essa civilização homogênea e brilhante, que durante um milênio, de 2500 a.C. a 1500 a.C., fará do vale do Indo, com o Egito e a Mesopotâmia, um dos grandes cadinhos da civilização do mundo antigo.
Esta civilização nova, dita do Indo ou de Mohenjo-Daro e Harappa, segundo o nome dos dois lugares explorados, parece ter representado um papel capital na formação da indianidade. Ela é portadora, com efeito, de germes dessa personalidade que eclodirá perto de dois milênios mais tarde e isso apesar de um longo eclipse, de um sono prolongado e perturbador, depois que essa civilização brilhante, essencialmente urbana na sua manifestação, mas de essência agrária, se apagou enigmaticamente por volta de 1500 antes da nossa era.
Ela oferece-nos, em suma, elementos que nos remetem à civilização sumeriana, sua contemporânea, sem por isso se apresentar como uma província desligada dessa prestigiosa cultura mesopotâmica. A escrita indiana, para dar só um exemplo, não tem rigorosamente nada em comum com a da Suméria. Compreende-se mal, como a civilização do Indo chegou tão depressa a um estágio urbano tão avançado e bem organizado; a fase preparatória necessária escapa-nos. Constatamos simplesmente que uma plêiade de cidades - perto de oitenta foram encontradas - coexistiram por, aproximadamente, um milênio numa área geográfica muito extensa, comparável à Europa ocidental, desde o mar de Oman até ao Ganges. As duas primeiras cidades desenterradas nos anos vinte, Mohenjo-Daro e Harappa, provocaram o espanto nos especialistas; até então nem se suspeitava da existência dessa civilização!
Uma aparição e uma desaparição misteriosas
O mistério de sua aparição duplica com o de sua desaparição; tão brutal como definitiva a meio do segundo milênio, dá lugar a um verdadeiro vazio cultural, a uma total regressão que perduraria dez séculos. Este período obscuro levanta, por sua vez, muitas perguntas. Para tentar resolvê-las, Sir Mortimer Wheeler, depois de 1946, utilizou sua pá de arqueólogo nesses lugares que Sir John Marshall, E. Mackay, Sana Ullah, Vats, Dikshit, Hargreaves...tinham pesquisado dois decênios mais cedo; suas observações foram em vários pontos confirmadas.
Estas cidades-estado cercavam-se de espessas muralhas, que nos alam de ameaças e de insegurança, tanto quanto as imponentes cidadelas, que freqüentemente as coroam e zelam pela sua segurança e seus bairros dispostos como um tabuleiro de damas, cortados por largas artérias orientadas na direção do vento. Normalmente utilizava-se o tijolo cozido para as infra-estruturas e o tijolo seco ao sol para os alicerces. Canalizações muito aperfeiçoadas levavam a água do rio mais próximo até à mais humilde habitação; outras, constituídas por regos, situados no meio das artérias, cobertos por pedras achatadas, drenavam as águas sujas e pluviais; estes esgotos coletores desembocavam em poços de decantação. Esta preocupação pela higiene e bem-estar geral apresenta um caráter excepcional para a época, que se preocupava pouco com a sorte dos humildes.
Sem janelas para o exterior, concebidas à volta de um pátio interior - o pátio ibérico ou o riad árabe - as casas lembram em tudo as do Oriente Médio com a superioridade de serem construídas com tijolos cozidos, ligados por uma argamassa feita de gesso. Aliás, a maioria era dotada de poços e instalações sanitárias domésticas (cozinha, banheiro, piscina...) totalmente desconhecidas das brilhantes civilizações vizinhas contemporâneas. Muitas tinham um andar ou até dois que deveriam ter sido construídos sobretudo com madeira. Agrupavam-se em verdadeiros blocos ou bairros mais ou menos reservados a corporações diferentes. Seu arranjo mostra-se muito superior ao das casas de culturas futuras, tais como as de Taxila no período dos Kushan.
Nos bairros públicos encontraram-se instalações imponentes de celeiros, que possuíam um engenhoso sistema de isolamento e ventilação; sua importância sugere uma organização social avançada e estruturada. Alguns comparam estes celeiros públicos a verdadeiros bancos nacionais, servindo o cereal de moeda de troca, de unidade de referência. Todas as mercadorias eram avaliadas por medidas de cereais. Aliás, a mais importante ocupação e a prosperidade os Indianos repousava na intensa atividade agrícola, que proporcionou a atividade citadina complementar.
Ficamos verdadeiramente admirados de, nesses tempos profundamente religiosos, não encontrarmos templos ou vestígios da estatuária que os povoaria, como foi regra noutros lugares durante toda a antiguidade, nem sequer estatuetas de adoradores em atitude de oração diante de sua divindade. Podemos concluir que a religião ficava num plano secundário? Num plano inferior, talvez, ao da religião no Egito e Mesopotâmia, ainda que pareça incrível, que a religião fosse negligenciada nesta época e nesta Índia donde partirá o budismo. Sem dúvida revestir-se-ia de formas que desconhecemos ainda.
As figurinhas de pedra ou bronze encontradas (somente onze peças fragmentadas de pequeno formato para todo o Mohenjo-Daro) e grande quantidade de figurinhas em argila, contribuem para uma certa documentação sobre esta sociedade e seus meios de expressão.
Parece que a natureza do material utilizado levava os artistas ou os modeladores a duas vias diferentes que testemunham duas estéticas e dois universos distintos. Com efeito, tanto uma estatueta em calcário representando um homem nu de Harappa, sem braços nem cabeça, pode surpreender-nos pelo seu naturalismo, pela sensibilidade da modelagem e a acuidade da observação - uma certa qualidade de observação e um acabamento da obra que só reaparecerão na Grécia - como as numerosas placas de argila retomando o tema da opulenta deusa-mãe das civilizações agrárias, de corpo geométrico, esquemático, recortado e incrustado, braços sem mãos terminando em pontas, olhos igualmente incrustados até mesmo com grãos de café, remetem-nos a uma concepção de arte diametralmente oposta mas não menos sedutora. Talvez esta segunda concepção, mais idealista, traga em si mais mistério e fervor. Alguns especialistas aventaram a hipótese destes bustos mutilados de homens nus representarem sacerdotes oficiando em sua nudez ritual, praticada na mesma época na Mesopotâmia; outros vêem neles representações de divindades. Na realidade ignoramos tudo acerca dos deuses da época.
Mohenjo-Daro e Harappa também não testemunham a existência de palácios ou de túmulos reais. Daí a conclusão de que um regime democrático fosse já uma realidade nesse tempo, esta audaciosa suposição foi admitida, sendo esse avanço surpreendente para a época. Nestes milênios de tirania, de insegurança, de religião e magia oficiais, uma tal conclusão surpreende e torna-se dificilmente aceitável, mesmo se constatarmos todo o interesse manifestado pelo destino do povo, numa época em que se fazia tão pouco caso disso.
No domínio da arquitetura nota-se igualmente a não menos surpreendente ausência de decoração esculpida na pedra ou no gesso; nem capitéis, nem lintéis trabalhados, nem balaústres, nem frisos... nenhuma intenção ornamental foi deduzida na disposição, sempre banal, dos tijolos. Poderemos nós imaginar, que a arquitetura tomasse um aspecto severo e rigoroso nesta Índia, que há milênios aprecia as mais ornamentadas e barrocas fachadas, as mais rebuscadas que o espírito humano concebeu? Nesta Índia primordial em que adivinhamos muitas primícias idade de ouro que virá, supõe-se que o gosto pela decoração profusa e abundante estava circunscrita a guarnições de madeira e lambris esculpidos pelos quais sabemos haver uma preferência persistente; mas isto é pura hipótese, pois a natureza do solo e a do clima parecem nada ter deixado subsistir. Pode-se igualmente supor a presença de decorações caiadas, como observamos atualmente nas fachadas de certos templos do sul da Índia.
Cidades de concepção democrática
De tipo agrário, esta civilização conheceu o uso do cobre e do bronze, não o do ferro. Para a olaria usava-se o forno. A maior parte da população pastoreava os rebanhos e cultivava o trigo, a cevada, o gergelim, pepinos e colhia tâmaras; esta relativa prosperidade facilita o progresso de uma pequena constelação de cidades-estado, que salpicou a gigantesca extensão do vale do Indo e afluentes e invadiu mesmo o vale do Ganges na direção leste. A primeira a ser-nos revelada, pouco depois do conflito mundial de 1914-18, foi Harappa, às margens do Ravi, cujo imenso campo de ruínas abandonado servia há meses de depósito de tijolos para construção do balastro dos caminhos de ferro do Pendjab. Alertados tarde demais, os arqueólogos esforçaram-se por tirar algumas informações dos restos esparsos e revolvidos desta extensa cidade - mais de cinco quilômetros de circuito - irremediavelmente pilhada.
Felizmente, quase ao mesmo tempo, um arqueólogo hindu, M. R. D. Banerji, trabalhando nas escavações de um mosteiro budista que coroava um gigantesco campo de ruínas bem mais ao sul, em Mohenjo-Daro, estabelecia uma relação entre os destroços recolhidos naquelas ruínas e os objetos encontrados em Harappa. Avisados, pesquisadores ingleses em breve acorreram ao local, menos extenso que o precedente, mas oferecendo em contrapartida a vantagem de não ter sido tão pilhado e esvaziado. Esses pesquisadores trabalharam alguns dos 260 hectares que as ruínas ocupam, com mais de 1.200 metros de comprimento; no setor mais elevado, separado do campo de ruínas principal, a poente do local, reconheceram uma cidadela e o bairro público e administrativo da cidade, enquanto que a levante, na cidade baixa, a mais vasta, descobriram bairros mais populares, reservados às habitações, às pequenas oficinas e comércio. No passado, o Indo - que depois se deslocou três quilômetros para leste - ladeava esses ativos bairros onde até cais acostáveis foram encontrados. Sem dúvida, que a cidade se enchia do ruído comum às cidades do Oriente, mas aqui as ruas não eram sinuosas e chegavam a ter perto de quatorze metros de largura.
Esta cidade baixa, disposta como um tabuleiro de damas, testemunha um verdadeiro planejamento urbano amadurecido e preestabelecido; aqui estamos a léguas das cidades orientais, que se lançam, anarquicamente, em todas as direções, suas ruas estreitas e sinuosas como "tocas de coelhos" para traduzir a feliz expressão de um explorador inglês. A presença freqüente de banheiros - de um gênero que se mantém até hoje em todo o subcontinente indiano - nas casas, mesmo modestas, são o testemunho de uma preocupação geral pela higiene e o conforto; por estas características, antípodas da política egípcia e mesopotâmica, que confiscava em proveito dos deuses e dos poderosos todo o esforço coletivo e que visava o colossal (construção de pirâmides, de zigurates, de templos famosos como Karnak), a civilização indiana merece a consideração em que é tida hoje; ali, nada de templos gigantes, de pirâmides colossais, de torres de Babel! É certo, que as preocupações pareciam ser de ordem mais utilitária do que religiosa ou política. Assim, o bem-estar era melhor repartido nesta população urbana, que parece ter amado a vida e uma certa ostentação, como o testemunha a abundância de joalheria.
Entre os edifícios públicos do bairro alto da cidadela, o que chama a atenção é um complexo de compartimentos articulados à volta de uma piscina, sem dúvida um tanque de purificação para os fiéis, se levarmos em conta o tradicional e atual costume dos crentes de tomar banho regularmente na água sagrada de um rio ou na de um tanque de um templo. No ritual indiano o banho individual desempenha um papel de grande importância.
Assim, parece que a religião hindu desde esses enigmáticos tempos, apresentava já um caráter mais ritual que cultural, mais personalizado do que coletivo, em que se confiava numa clerezia. Este aspecto da religião manteve-se na Índia, onde o rito mais popular é ainda esse banho solitário do crente. Mesmo lado a lado de seus irmãos de religião, o que mais impressiona neste rito de purificação pela água, é o ar ausente do oficiante, que se comporta como se estivesse só com a sua divindade. Assim sendo, é absolutamente necessário ver no "Grande Banho" de Mohenjo-Daro, o protótipo dos tanques rituais de purificação, que se encontram através de toda a história indiana. A existência de instalações cuidadas à volta desta piscina, como pequenos compartimentos com banheiras, uma galeria circundante com pórtico e degrau, parecem confirmar a finalidade religiosa do conjunto. Mal se concebe, que um complexo tal, pudesse ser um simples reservatório e a concepção profana de uma piscina de recreio, também não teria cabimento nestes tempos recuados.
Mas a grande originalidade desta importante cultura reside principalmente nos seus famosos e inumeráveis selos - mais de 1.200 foram recolhidos só em Mohenjo-Daro! - côncavos, na sua maior parte, gravados na untuosa esteatite, instruem-nos sobre a fauna da época, talvez também sobre a teogonia dos hindus. Búfalos, touros, zebus, elefantes, tigres, rinocerontes, íbis, antílopes, esquilos, crocodilos, serpentes... todos estes animais sugerem uma natureza mais verdejante e arborizada do que hoje. Como foi preciso abater muitas árvores durante uma dezena de séculos, para construir, esculpir, alimentar as lareiras domésticas e cozer tijolos aos milhões, não teriam os hindus perturbado o equilíbrio ecológico levando toda a zona do Indo a um lento e progressivo desaparecimento? Temos a certeza, que no início da nossa era a região estava coberta por uma imensa floresta.
Por outro lado, numerosos orientalistas interpretaram essas representações animais, vistas de perfil, quase sempre em repouso, como emblemas, símbolos divinos. Neste panteão voluntariamente animalista, foi encontrada em Mohenjo-Daro, por três vezes, a presença de uma personagem sentada em atitude de alfaiate sobre um tamborete dotada de três rostos e grandes chifres; neste estranho deus rodeado de feras, viu-se o protótipo do futuro deus Siva, na sua metamorfose (avatar) particular de animal e sob a forma "Trimurti", quer dizer tricéfala.
Por seu lado, o culto da serpente, sobretudo da cobra-capelo, muitas vezes associado ao do touro, remete-nos de novo para o deus Siva uma vez que são os seus dois animais emblemáticos; a serpente, evoca o domínio subterrâneo da morte, enquanto que o touro, simboliza a fecundidade e refere-se ao sol que fertiliza, enviando-nos para o domínio celeste. Siva, com efeito, será freqüentemente figurado com uma serpente enrolada ao tronco e montado sobre o touro Nandin.
(...)Assim, numa época imprecisa, que se situa por volta de 1500 a.C., estas cidades foram todas abandonadas por razões misteriosas: cheias catastróficas que provocaram deslocamento do curso dos rios? Uma grande perturbação ecológica, por exemplo, uma seca extrema? Inversões vindas pelo famoso desfiladeiro de Khyber, como a dos Árias, que se estende por três séculos (1500 a.C. a 1200 a.C.)? O perturbador achado, nas ruínas, de cinqüenta cadáveres confirmaria a tese de um fim brutal. Essas pessoas não teriam tido tempo de fugir e foram massacradas nas ruas; encontraram-se corpos decapitados, de crânio fraturado; uma mulher perseguida que quebrou a cabeça numa escada. Uma certeza: depois deste massacre a cidade foi totalmente abandonada. Não se vive no meio de cadáveres e estes estavam insepultos. De todo o modo, o declínio já estava lá, pois constata-se, que o último nível de ocupação da cidade traduz um nítido recuo no cuidado da construção, que era de má qualidade. As casas parecem quase pardieiros implantados numa cidade moribunda. Chegou-se mesmo a dar um nome a esta medíocre cultura: Jhukar, e situa-se entre 1700 a.C. e 1500 a.C.
Onde estariam os geniais criadores da grande civilização hindu? Foram dizimados por terríveis epidemias? Neutralizados por flagelos insuperáveis (cheias, secas, salinização do solo...)? Eliminados por invasores? Ignorâmo-lo. Talvez tenhamos de apelar para todos estes fatores ao mesmo tempo. Assim, esta civilização permanece misteriosa do começo ao fim, de suas origens à sua destruição. Não é menos verdade que já se vêem nela traços do futuro gênio indiano, o que nos obriga a considerá-la como sendo de essência puramente indiana.
Os Arianos
No decorrer do segundo milênio antes da nossa era, todo o mundo antigo foi abalado por invasões, movimentos de populações, que se entrechocaram como um movimento de ondas, cujo centro principal de origem emanava da Ásia central. Com intensidade diferente, todas as regiões foram afetadas: os Dóricos instalaram-se na Grécia, os Hititas na Anatólia e os Árias nos planaltos iranianos e na Índia setentrional. Estas tribos arrastaram outras na sua passagem. Quando os Árias - daí em diante os Indianos históricos - aparentados com Iranianos, como o demonstra a língua, se espalharam entre 1500 a.C. e 1200 a.C. pela planície indo- gangética, foi-lhes necessário empurrar as populações indígenas recalcitrantes em direção ao Decão. Atualmente, etnias como os Tamuls, os Tégulus e os Kanara, de raça dravidiana, e os Munda, repelidos igualmente para a Índia central, constituem núcleos de sobrevivência do antigo substrato aborígine, que se esforçava por sobreviver ao lado do ocupante.
Temendo ser absorvidos por esta massa de submetidos que restava, os conquistadores, mais bárbaros, mas dotados de melhor armamento, instauraram uma sociedade fechada e compartimentada em castas, fundada primeiro numa descriminação racial baseada na cor da pele, depois na função social. Ao alto da pirâmide, os Sábios ou brâmanes, depois os Guerreiros ou xátrias, em seguida os Camponeses ou vaicias e enfim os Sudras para os servir. Quanto aos autóctones, não assimilados, ficavam "fora das castas"!
Durante várias gerações, os brâmanes transmitiram oralmente os Livros do Saber, os Vedas, que se aparentam com o Avesta do Irã e só serão registrados escrito a partir do século VI antes da nossa era, quando a escrita de origem aramaica foi introduzida no Pendjab, sem dúvida pelas administrações do ocupante persa aquemênida. Este conjunto literário - os Vedas - vibra de poesia naturalista e apresenta-se como uma compilação de cantos e hinos litúrgicos, acrescentada de todo o ritual a observar nos sacrifícios.
Antigos pastores nômades, os Árias, introduziram sua teogonia constituída essencialmente por divindades astrais, celestes e atmosféricas: o Sol (Suria ou Vishnu), o Céu estrelado (Varuna), o Céu trovejante (Indra) e os deuses da Tempestade, o Fogo (Agni) e toda uma plêiade de divindades e gênios secundários. Ao longo dos séculos, vingança dos vencidos, esta teogonia não cessaria de evoluir num sentido cada vez mais influenciado por eles.