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Medicina e Biologia

No que diz respeito à medicina, o povo do vale do Indo dava grande valor à higiene, como o testemunham as escavações em Mohenjo-Daro; depois disso, os médicos védicos desenvolveram técnicas para lidar com grande variedade de doenças, levando os velhos ensinamentos, presumivelmente, alguns estágios adiante. Eles acreditavam que as moléstias tinham, muitas vezes, causa hereditária, embora também ensinassem que as mudanças de estações traziam algumas formas de doenças e - ainda mais interessante - que outras se deviam a pequenos organismos que viviam no interior do corpo; infelizmente, não houve uma tentativa de classificar as moléstias. O tratamento envolvia remédios preparados com ervas, muitas vezes temperados com minerais e com partes de animais, conquanto, naturalmente, rituais, feitiços e encantamentos' tenham tido seu lugar. Além disso, do século II a.C. em diante, a prática da ioga também foi aceita como forma de cura física. No entanto, em tudo isso fica claro que, embora tenha havido pouca sistematização médica formal, os que praticaram a medicina fizeram muitas observações, criando seus próprios termos técnicos, de tal forma que, no momento apropriado, houve material bastante para elaborar o grande tratado médico básico hindu, o Ayurveda, que parece ter sido compilado há C aproximadamente 2000 anos.
No Ayurveda, a idéia de que a doença é um desequilíbrio que ocorre no corpo é o tema central, mas o livro contém muitas alterações feitas à luz de experiências posteriores e é, realmente, um compêndio de prática médica, um corpo hipocrático hindu. O tratamento de doenças é um processo em duas vias: a eliminação dos ingredientes que, dentro do corpo, estão causando a falta de equilíbrio e sua substituição por outros, harmoniosos. O texto mostra também algum conhecimento do sistema digestivo - o alimento é ingerido, queimado (pelo "fogo no estômago") e então transformado em sangue, músculos, gorduras, tutano dos ossos ou sêmen - e talvez tenha sido esse ponto de vista que tenha dado origem à idéia de tratar as doenças pela remoção e substituição de substâncias deletérias. O texto inclui ainda detalhes de tratamentos cirúrgicos, e muitas operações foram realizadas, particularmente do abdômen e da bexiga (para a remoção de cálculos), ao mesmo tempo em que se realizava também a remoção de cataratas. Além disso, os médicos hindus sabiam como os vasos sanguíneos deviam ser fechados depois de cortados, e até realizaram cauterizações. Na verdade, parece que foi nos tratamentos cirúrgicos que a medicina hindu atingiu um alto estágio.
Há amplas provas de que, no vasto campo da biologia, os hindus védicos reuniram considerável coleção de fatos sobre a forma, estrutura e disposição interna das plantas. Tinham nomes para a raiz, os brotos, o caule, as folhas, as flores, os frutos e os ramos, e dividiam as plantas em três grandes grupos: árvores, ervas e plantas rasteiras. As ervas, que tinham tão grande uso medicinal, eram depois subdivididas em sete classes com base em sua forma detalhada, sua estrutura e outras características. E o trabalho realizado com as plantas também se aplicou ao meio animal, pois a literatura védica contém mais de 260 nomes de mamíferos, pássaros, répteis, peixes e insetos, além de mencionar as espécies venenosas que causam doenças no gado e no homem. Os animais domésticos incluíam a vaca, o búfalo, o cavalo, a ovelha, o bode, o gato e o cão, e - o que era exclusivo do subcontinente indiano - o elefante. O conhecimento biológico posterior incluiu outros estudos das plantas e da vida animal, grande parte das indicações sobre isso sendo encontrada em poemas e na literatura dramática, assim como em fontes mais usuais, como enciclopédias e trabalhos de tendência mais filosófica. Estudou-se a germinação das plantas, e no século V d.C., Prasastapada sugeriu uma classificação baseada no fato de a reprodução ser sexuada ou não. Ainda mais tarde, no século XIII, foram publicadas outras descrições de animais, estimuladas pela paixão real da caça, ao passo que, desde o princípio do século XVI, os imperadores da dinastia mogul, fascinados por todas as espécies de animais, domesticados ou selvagens, foram responsáveis pela acumulação de uma enorme quantidade de conhecimentos zoológicos e encorajaram experiências na criação. As plantas também desempenharam seu papel nessa tomada de consciência biológica.

in Ronan, C. História Ilustrada da Ciência de Cambridge. Rio de janeiro: Zahar, 1986.


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