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O Budismo

O budismo foi fundado por Gautama Buda, nascido de uma família abastada e nobre por volta de 560 a. C., e morto por volta de 480 a. C. Apesar de sua riqueza e dos empenhos de que foi alvo para não abandonar a casa paterna, ele partiu depois do nascimento de seu filho, e viveu durante seis anos na penitência, buscando a Verdade, a libertação das reencarnações. A experiência lhe mostrou que vãs eram as penitências humanas para alcançar esse fim. E, uma noite, em Boudgaya, ele conheceu a iluminação ao mesmo tempo que os princípios que deveria, pouco depois, anunciar ao mundo. Buda reuniu seus primeiros discípulos em associações monásticas, sujeitas a regras que, naturalmente, aumentaram no curso dos séculos. Os leigos foram, posteriormente, admitidos a seguir (de longe) a via traçada pelo Mestre, na esperança de renascer um dia, entrar como noviços na ordem, e chegar ao Nirvana.
É difícil precisar se o fundador do budismo teve, desde o começo, a visão nítida do rompimento que ele ia operar no hinduísmo ou se apenas se achou no direito de expor suas teorias como uma das vias para a salvação. A mensagem de Buda são, primeiro, as quatro grandes verdades: o fato do sofrimento, a causa do sofrimento, o fim do sofrimento, os meios de escapar ao sofrimento. Estes últimos são o fundamento da verdade: a compreensão verdadeira, o conhecimento verdadeiro, a veracidade, a ação e a vida verdadeiras. Por esses meios, o homem consegue libertar-se da ignorância, causa última do renascimento. Porque a ignorância nasce do desejo, do desejo vem a ação, e da ação, o renascimento.

A ética do budismo
A doutrina de Buda dá ênfase a um moralismo que não deixa de apresentar dificuldades - e são muitas. Acresce que em todas as questões metafísicas o silêncio de Buda nos constrange. Não há dúvida que em face da substância imutável que é Brahman, ele afirmou que tudo é transitório e que nada de substancial existe. Donde, logicamente, nenhuma alma, na realidade, transmigra. A transmigração não é senão a continuidade dos valores: uma boa ação vê sua influência perdurar. O mesmo acontece com uma ação má. Como o budismo em sua pureza rejeita Deus, é só por seus próprios esforços que o homem se liberta e alcança o Nirvana.
Mas qual é o sentido profundo desse termo, tantas vezes usado, com e sem propósito? Não se sabe se ele esconde uma aniquilação total; um estado de bem-aventurança que rejeita só os fenômenos mutáveis, inconstantes; ou se não indicará que é mais sensato para o homem deixar-se ficar, pelo menos neste mundo, em um cômodo agnosticismo. A solução desses problemas pode deleitar nossa curiosidade, mas não é útil. Quando a casa está em chamas, a gente sai dela o mais depressa possível. Quando alguém está doente, não quer saber qual a natureza última do remédio, e, sim, tomá-lo.

Tendências diversas nascidas do budismo
A Índia é, sabidamente, um país de seitas. Duas grandes escolas de pensamento nasceriam, logo, do budismo: o Hinayana, ou Pequeno Veículo, apresenta co:mo ideal ascético o Arhat, o monge perfeito, o qual, retirando-se do mundo, garante sua salvação pessoal, sem inquietação maior com o resto da humanidade. O Mahayana, ao contrário, aparecido por volta do primeiro século da era cristã, tem anseios de salvação universal: o Bodhisattva, aquele cuja essência é a verdade, o conhecimento, é o tipo do homem perfeito. Ele chega a renunciar ao Nirvana a fim de consagrar-se à salvação do mundo. A rigor, para salvar-se, ninguém precisa envergar a bata ama- rela do monge mendicante budista. É possível ganhar a salvação também no estado leigo. Em vez de uma sabedoria austera, o budismo se torna, então, uma religião em que penetram, com as multidões, todos os deuses das aldeias, transformados em Bodhisattvas ou em Budas.
O budismo, que começara sua carreira no agnosticismo, assiste à multiplicação das investigações filosóficas a fim de alcançar por elas uma espécie de idealismo. N uma outra vertente, ele acaba caindo na magia dos budistas ditos tântricos. Pareceu-nos, então, necessário, assinalar essas heresias surgidas do hinduísmo. Elas permitem compreender melhor, simultaneamente com sua formação, as reações que ele provocou.

in Gathier, E. O Pensamento Hindu. Paris: Seuil, 1960.


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