O jainismo teria sido revelado ao gênero humano por uma sucessão de Mestres, os Tirtakharas, ou santos, que conseguiram passar, como que a vau, o rio das reencarnações. Mahavira é o vigésimo quarto e último da lista. A ele se atribui a fundação da seita na sua forma atual. Segundo a tradição, Mahavira viveu de 599 a 527 a. C. Tendo renunciado ao mundo com a idade de 18 anos, começou uma carreira de penitência. Vinte anos depois, recebeu a "iluminação". Assumiu, então, a qualidade de profeta e o título de Jaina ou "conquistador espiritual". Ensinou durante trinta anos e organizou os quadros da seita. Seus monges e suas religiosas são, antes de tudo, ascetas, as quais, através das penitências as mais diversas, encaminham-se para a penitência suprema: a morte, ou, mais exatamente, o suicídio por inanição, que os põe de posse da libertação. Ateus, não oram nem oferecem sacrifícios; anapsiquistas, vêem almas até na matéria; atomistas, afirmam a impermanência das substâncias compostas de átomos qualitativamente semelhantes. Discute-se ainda se eles admitiram a impermanência absoluta de tudo em face da afirmação hindu da imutabilidade do Brahman.
Desobrigados de interpretar os livros sagrados dos hindus, eles trabalharam em outros setores. A dialética, em primeiro lugar, na qual se esforçam para demonstrar a incapacidade de toda definição para alcançar a realidade de maneira adequada. A psicologia, em seguida e principalmente, em que algumas de suas análises das faltas e dos meios de romper os grilhões do pecado não deixam de ter profundeza. A prática monástica de uma espécie de exame de consciência diário (comum aos leigos, se bem que mais espaçada) abriu aos jains, reconhecidamente, vastos horizontes sobre as molas da alma humana. Dentre as virtudes que eles sempre encareceram, a Ahimsa, ou não-violência, vem em primeiro lugar. Ela vai ser levada por eles ao excesso. Exemplo: o véu que levam no rosto para filtrar um eventual mosquito ou, melhor, para não causar dano aos seres microscópicos e vivos que se encontram no ar. Os jains conheceram dias de triunfo e levaram seus monumentos até o sul do subcontinente. Mas quando o hinduísmo se reorganizou para reconquistar o terreno perdido, as discussões teológicas muita vez terminaram pelo extermínio dos jains: o paredão oriental do grande templo de Madura conservou para nós a lembrança desses horrores. Os jains são aí representados como vítimas de torturas desumanas, empalados, cortados em pedaços. Oito mil deles morreram nos arredores da cidade. Mas o hinduísmo se encontrava também diante de um outro adversário de peso, nascido desde o começo da reforma de Mahavira: o budismo.
in Gathier, E. O Pensamento Hindu. Paris: Seuil, 1960.
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