Isso se refletia também nos papéis sexuais dentro da sociedade. A mulher tinha seu campo de ação bem restrito nos negócios públicos, em virtude do machismo predominante. No entanto, elas eram o pilar da família, tendo grande poder dentro de casa no controle dos filhos e na distribuição das tarefas. Como foi dito, as prescrições religiosas e legais tendiam a diminuir nas varnas mais baixas. Enquanto uma viúva por vezes era obrigada à se atirar numa pira ardente junto com o corpo de seu marido, já que não poderia mais casar, no meio da população mais comum as relações amorosas pareciam ter uma flexibilidade bem semelhante à que conhecemos nas modernas sociedades, permitindo que tal costume fosse de certa forma tripudiado pelos mesmos.
A questão da educação e do domínio das ciências também era restrito, estando as varnas superiores em condições de educar seus filhos pagando tutores e gurus, além de enviá-los à escolas e viagens. Aprendiam gramática, matemática, religião e filosofia, além de artes e música. Ênfases em áreas específicas ocorriam no seio de cada classe, como os kshatryas, por exemplo, que desde cedo ganhavam também treinamento militar. Existia porém uma ponte entre essa cultura técnica e as varnas mais baixas, realizadas por aqueles que praticavam o ascetismo e o desprendimento. Esses Richis (sábios) e gurus (professores) divulgavam parte dos seus conhecimentos filosóficos para a população, de uma forma livre e espontânea.
A língua sagrada da cultua védica era o sânscrito, embora na época de fixação da maior parte desses textos ela já fosse antiga. Os idiomas falados na época dos Maurya, por exemplo, seriam o Prakrit, Karoshti e talvez o Páli, língua em que teria sido escrito o cânone budista. O sânscrito porém foi preservado como idioma religioso.
A execução das funções ditas “liberais” na sociedade, tais como medicina, arte, artesanato, etc., estavam divididas entre as varnas. Sabemos por diversos textos que a sociedade contava com diversos ramos produtivos, e com diversões também, como teatro, jogos, entre outros. É provável que existisse uma certa mobilidade social em classes mais atuantes como a dos vasyas e kshatryas, que eram obrigadas a estar em contato constante com o resto do povo, não só exercendo controle mas também, interagindo, absorvendo e divulgando conhecimentos nesse meio (Auboyer, 1969).
A vida dos indianos antigos parecia ser portanto um desdobramento organizacional das concepções de ordem e de universo que os mesmo possuíam. No entanto, embora tenhamos motivos para acreditar, através da documentação, que parte dessa estrutura era real, observamos também que ela não cobria aspectos diversos dessa vida cotidiana, principalmente das classes mais baixas, o que nos permite uma série de inferências positivas sobre o papel desses grupos e de seu modo de vida, num sentido mais flexível em relação à ideologia dominante.